Amor e Sexualidade

Nossa cultura foi intensamente influenciada por crenças que separaram o amor da sexualidade, como se cada uma resultasse de uma fonte distinta: o amor da dimensão angélica e a sexualidade de uma dimensão diabólica.

Nas tradições populares, nos contos e mitologias, encontramos histórias de princesas inocentes e puras, raptadas por dragões e aprisionadas em castelos. Elas, prisioneiras, oram por um cavaleiro que vença os maiores obstáculos e as salvem. Na realidade, esses são contos iniciáticos sobre amor e sexualidade, que requerem conhecimento do mundo dos símbolos para que possam ser interpretados.

A imagem do dragão não é outra coisa senão a força sexual. Nas tradições judaicas e cristãs, o dragão é relacionado ao diabo e o diabo, como geralmente se diz, cheira a enxofre, portanto cospe fogo. No castelo – símbolo do corpo humano – suspira a princesa, isto é, a alma, que a força sexual mal controlada mantém prisioneira. O cavaleiro é o ego, o espírito do homem. As armas de que ele se serve para vencer o dragão representam os meios de que o espírito dispõe: a vontade e a ciência para dominar a força sexual e poder utilizá-la. Assim, uma vez dominado, o dragão passa a ter asas e se torna servidor do homem: transforma-se na montaria do cavaleiro que, junto à princesa, viajam ao espaço. O dragão – controlado – é então representado com uma cauda de serpente, símbolo das forças subterrâneas e com asas, significando a evolução à dimensão superior que conduz o homem às dimensões superiores.

No caminho do autoconhecimento, integrando nossas dimensões física, psíquica, contemplativa e espiritual, desenvolvemos a capacidade de vivermos a consciência de que o amor e a sexualidade, juntos, provêm de uma única Fonte. Quando sabemos, na profundidade de nosso Ser, que tudo vem de Deus e que tudo o que se manifesta através do homem como energia é, na origem, uma energia divina, nossas atitudes serão a expressão dessa consciência e viveremos os efeitos dessa manifestação.

Fazendo uma correlação com a eletricidade, esta é uma energia a cuja natureza não temos acesso, mas que ligada a uma lâmpada produz luz, não sendo a luz. Na eletricidade, a energia ao passar por um fogão, será a manifestação do calor; se passar por um ímã, será magnetismo; se passar por um ventilador, será movimento.

A energia divina atua de maneira semelhante: podemos dizer que existe uma força cósmica original que adquire aspectos distintos de expressão, conforme o órgão do homem através do qual se manifesta. Através do cérebro, torna-se inteligência, raciocínio; através do coração, torna-se sentimento; do plexo solar, vontade; do centro Hara, sensação; quando passa pelo sistema muscular, torna-se movimento e, finalmente, quando passa pelos órgãos genitais, torna-se atração pelo outro.

Quando o amor não está presente, ao passar pelos órgãos genitais, produzirá sensações, uma excitação, um desejo de aproximação, justamente o que ocorre com o reino animal que em determinados períodos do ano se acasalam e, em algumas espécies, como o louva-a-Deus e certas aranhas, a fêmea come o macho. Isto é amor? Não, é pura sexualidade.

O amor começa quando essa energia toca simultaneamente os outros centros do homem: o coração, o cérebro, a alma e o espírito. Nesse momento essa atração, esse desejo que as pessoas sentem de se aproximar de alguém é iluminado por sentimentos, pensamentos e admiração. Nesta manifestação da energia divina já não se procura uma satisfação puramente egoísta; neste encontro sentimos os graus superiores dessa força cósmica que muitas vezes nos possibilita a experiência de êxtase. Podemos dizer que amor é sexualidade, mas expandida, esclarecida e transformada.

O amor e a sexualidade não estão juntos quando nos limitamos, quase que exclusivamente, a algumas sensações físicas grosseiras, com o único objetivo de nos satisfazermos descarregando uma tensão, separando-nos logo após a satisfação do desejo. Pode-se dizer que a sexualidade – sem o amor – é uma tendência puramente egocêntrica que estimula a pessoa a procurar unicamente o seu prazer, onde o outro não existe como indivíduo, mas como meio de sua própria satisfação.

Nas manifestações exteriores, não há diferença entre o amor e a sexualidade, pois são os mesmos gestos, os mesmos abraços, beijos… A diferença está na direção que essas energias tomam. Quando somos impulsionados apenas pela sexualidade, não nos preocupamos com a outra pessoa. No entanto, quando amamos alguém, o amor domina a sexualidade e a espiritualidade se manifesta: o foco da atenção é também a felicidade do outro, a sua plena expressão e desenvolvimento em todas as suas possibilidades. A sexualidade e o amor não têm, portanto, grande diferença no plano físico, mas sim no plano invisível: psíquico e espiritual.

À medida que crescemos no amor espiritual, trocamos sentimentos superficiais e falsos por emoções profundas e verdadeiras. Esta é uma união sagrada porque se baseia na essência divina, alicerçada na inocência, no não julgamento, onde o único motivo é amar e possibilitar que o outro seja feliz.

O desafio no caminho do amor é justamente atravessar a porta da entrega ao outro para que a paixão seja encontrada. Sem a entrega, a paixão fica centrada no desejo egoísta do prazer. Com a entrega, a paixão é direcionada para a força da vida, o que em termos espirituais significa se permitir ser levado pelo rio da vida, que é eterno e inesgotável em seu fluxo. E agora, qual o tipo de relação que você quer viver? Lembre-se que tudo começa com a revisão de tuas crenças, sentimentos e atitudes com relação ao tema.

Por: Erica Brandt

Data: 02/04/2010

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